Quantas velocidades mesmo?
A quantas velocidades podemos andar?
Será que é apenas uma de cada vez ou estamos todos em constante alternância.
Será isso que nos está a deixar tão exaustos/as?
Sinto o tempo a duas velocidades desde que tudo se alterou nas nossas vidas.
Por vezes, sinto a aceleração de regresso. Em que volta a ansiedade e a perceção enganosa de ter de cumprir muito, fazer mais, criar continuamente.
E de repente, vem de novo uma pausa, um momento que quebra a rotina frenética e nos obriga a fechar, a arriscar menos e a garantir que nos focamos no essencial dos dias da nossa bolha.
Apesar de tentar manter o foco no meu equilíbrio, nem sempre consigo.
Têm sido meses e meses de muita intensidade, muito trabalho e muitas necessidades emocionais e de organização que os miúdos me exigem.
Estamos praticamente a fechar o ano, que já não foi tão surpreendente como o anterior porque já havia alguma aprendizagem e adaptação, mas revelou-se tão ou mais exigente.
Eu senti-me claramente mais preparada, no entanto, voltei a ter dois picos de enorme cansaço, um mesmo antes das férias de verão e agora começo a sentir já os sinais do segundo pico do ano.
Mais um isolamento profilático e tudo tem de ser replaneado, repensado.
Vamos lá, para mais uma volta!
Estou neste momento a voar para Bruxelas e sinto quase como se estivesse a fugir de um país em pré-calamidade. Em que o cinzento dos dias nos contamina também o humor e a energia. Estamos numa maratona de resiliência face ao definhamento e a cada fase aprendemos mais sobre nós mesmos.
Como fui capaz de garantir a minha própria saúde física e mental com tudo o que este 2021 me trouxe?
Nem sei, não fui consistente em nenhuma das estratégias que funcionam comigo. Fui saltitante, hesitante, por vezes, muito focada e logo a seguir fiz grandes deslizes de sedentarismo e de muita tensão e execução frenética.
Que exercício complexo é este de tentar manter o nosso eixo, com várias áreas da nossa vida integradas e a fluir. Não há receitas simples ou dez passos para se alienar da intensa busca interna de alguma coerência.
Este ciclo de quase dois anos alternou as minhas prioridades mas também sinto que me tornei menos ambiciosa e mais empática comigo. Respeito que não vou conseguir cumprir planos e objetivos exagerados. Que na verdade tenho cerca de 40 horas semanais de trabalho que têm que ser suficientes para a minha entrega profissional, e que a qualquer momento tenho que garantir o isolamento profilático de um dos meus filhos.
E está tudo bem.
Aprendi com o povo moçambicano que o tempo é circular e não linear. Significa que tudo acontece e surge quanto tem de surgir e que se perdermos uma oportunidade, nos atrasarmo-nos por qualquer motivo, logo outra surgirá no momento exato em que já conseguiremos juntar preparação com os recursos necessários, internos e externos.
Quero acreditar que vou conseguir aprender ainda mais mesmo quando os confinamentos se repetem, em invernos que se tornam longos e isolados.
Quero muito continuar acreditar que tudo fará sentido lá à frente para todos e não só para mim ou para alguns.
Até breve...