Estou viva sim. Depois de um aniversário pleno e sentido.
Com tantas voltas já ao sol. Tantas e tão boas!
Sinto que entrar na quarentena é ganhar uma profunda clareza de si próprio, de quem e do que nos rodeia.
Tantas experiências, tanto para processar e por vezes numa correria desenfreada.
Nestas últimas semanas senti-me mais permeável e sensível. Deixei que as notícias me penetrassem mais profundamente e criassem terreno fértil para ansiedades e medos.
Na verdade, não sei se já partilhei, mas tenho um traço ansioso grande, vincado e notório. Por vezes, sinto que já consigo lidar melhor com ele, que já o domino.
Mas, na verdade, ele está lá sempre. Pura ilusão de ótica.
O maior medo, o da perda. Perder os que amo. Perder oportunidades de crescimento profissional e de aprendizagem.
Preocupações estas que conseguem estragar o mais belo momento ou a gratidão por tantas coisas boas que me aconteceram nos últimos anos.
Quase que me sinto impostora de mim própria por sentir que talvez não mereça algo bom.
E sinto que algo negativo deve estar a espreitar na próxima esquina.
Como se a felicidade, a alegria e a concretização pudessem estar manchadas de alguma maneira. Aquela nódoa que não se consegue lavar, por mais que se insista.
Já me afundei nesta crença disfuncional (usando a minha forma tão racional de analisar questões) mas não a consigo eliminar, tal qual ervas daninhas de dias bons, de muito trabalho, mas também muito alinhamento.
Continuo tentando.
Deve ser isto a maturidade, conseguir compreender que há traços em nós que não conseguimos modificar. Podemos apenas, de forma consistente, fazer o nosso melhor para conviver com eles. Procurando estratégias que nos ajudem a seguir confiantes, calmos e centrados no aqui e agora.
Recordo-me quando fiz o projeto de voluntariado em Moçambique em 2005 aprendi como o tempo pode não ser linear, mas sim circular. Para os moçambicanos é claramente circular.
Se assimilarmos esta noção, talvez o peso do passado e a exaustão do futuro nos seja mais suportável.
E encaramos todos os episódios de forma leve, sem os conotar de positividade ou negativa.
Apenas substância.
E eu quero muita. Na minha vida. Em todas as voltas que por cá andar.
Até daqui a quinze!