Mercúrio Retrógado
Este não é um texto dedicado à Astrologia. Mas venho falar-te de ultrapassar contrariedades e conservar recursos chave para ultrapassar o que estamos coletivamente a viver.
Os dias prosseguem-se, em que tudo parece acontecer com normalidade, responsabilidades profissionais e familiares, mas esta ‘normalidade’ é apenas aparente.
Sinto-me sob o efeito de uma anestesia crescente derivada da preocupação crescente com o futuro. Desde 2020 tenho vindo a afastar-me de uma visão otimista sobre o futuro e cada vez mais sinto enraizar crenças negativas acerta do que nos espera.
É quase como se a minha estrutura experimentasse uma reconstrução interna, onerosa e sofrida. Até aqui o meu ajustamento dependeu sempre de ter acreditado que o futuro seria melhor, que caminharíamos todos para um mundo mais justo, equilibrado e consciente.
Hoje não sinto isso. E este desalento começa a contaminar os meus dias.
Que futuro nos espera de facto? Estaremos preparados? Como garantir que nos equilibramos perante um caos contínuo e acelerado?
Estas questões e tantas outras trazem um cinzento que fica difícil distrair ou ignorar. E na minha estrutura não é a depressão que emerge mas sim uma ansiedade latente, muitas vezes não expressa mas que me incomoda profundamente. Uma antecipação de um estado crítico, que nunca chega mas que assusta.
Poderá ser uma transição de vida? Talvez o apogeu da minha maioridade que passou e a pouco e pouco começa a chegar a desilusão por não conseguir evitar para onde a corrente nos leva.
O meu enorme desafio é aprender a conviver com este incómodo permanente numa ficção coletiva triste, conseguindo aprender uma nova forma de recuperar e reenergizar.
Já não posso depender do meu otimismo. Esse traço, antes tão forte em mim, começa a disfarçar-se de um ceticismo proativo.
Continuarei a construir-me, a construir e apoiar a construção de outros? Sim, claro.
Estarei no entanto mais vigilante e pronta a identificar todas as estratégias e comportamentos que já não têm enquadramento no momento atual, sem repetir erros ou desgastar-me com o que não controlo.
Este retrocesso veio reforçar a aprendizagem que na verdade controlamos muito pouco, e somos péssimos a prever o nosso futuro.
De nada vale alimentar o que já se instalou em mim, mas perante o cenário, o mais adaptativo é deixar que alguma neblina permaneça para que eu não adormeça e passe a considerar que tudo isto é normal.
Não é normal, nem novo ou velho, nada de normal tem este momento da nossa história!
Mas cá estarei para me encontrar de novo, com uma nova estrutura que me resgate do colapso da falta de perspectivas.