A ausência foi longa, eu sei.
Se por acaso pensei lá atrás que 2021 seria mais fácil, enganei-me. Estes primeiros sete meses deixaram-me profundamente exausta. Um desalento e tristeza apoderaram-se não continuamente, mas em momentos intensos e de grande profundidade.
O meu centro foi abanado.
Ao empatizar com tudo o aconteceu no mundo, perto ou longe, deixei-me mesmo levar por uma grande desilusão com a humanidade e o nosso futuro colectivo.
Sou muito otimista e sempre olhei as potencialidades antes de todas as limitações, incoerências e fatalidades.
Mas sinto que chegámos claramente a um ponto sem retorno.
Serei só eu. Não, de certeza.
Ao mesmo tempo que tentei dar resposta a uma licença de maternidade não gozada de forma natural, responder a exigências familiares e profissionais, deparei-me com momentos de grande tristeza por tudo o que aconteceu a muitas, muitas pessoas.
E ao mesmo tempo que me sentia privilegiada e grata por não ser comigo ou com a minha família e amigos. Desta vez, a gratidão não foi suficiente.
Não consegui, na verdade separar-me destas situações.
Quando era mais jovem talvez o facto de estar tão centrada em mim e nas minhas necessidades me protegesse do que senti pela primeira vez nestes 41 anos de existência. A maternidade trouxe-me uma maior descentração mas expôs-me a novos riscos.
O que vivi foi uma exaustão pela empatia.
Nada aparentemente na minha vida pessoal correu mal. Muito pelo contrário.
Simplesmente a realidade colectiva partiu-me o coração e acelerou uma nova ansiedade não individualizada.
Por isso, senti mesmo necessidade de desligar e recuperar.
E ainda estou neste ciclo de recuperação.
Em aprendizagem.
Na expectativa que o meu optimismo regresse, reiventado e mais ajustado aos tempos que vivemos e que nos podem afundar a alma.
Até breve.